Um final de tarde frio, um chá de hortelã e um cigarro.
O noticiário na televisão fala sobre as mortes causadas pela chuva da madrugada. Já são quase duzentos corpos achados entre os escombros do desabamento.
Olho pra você. À meia luz do quarto, o seu corpo se destaca estirado entre os lençóis, e seu rosto abriga uma expressão de sono pleno. Tão tranquilo que posso até palpitar que está tendo um sonho bom.
Me vem na mente o aluguel para pagar até o fim de semana e o dinheiro contado na carteira. Temos comida e dinheiro suficiente para viver até o fim do mês. Logo estaremos os dois trabalhando e então as coisas hão de se ajeitar.
Ainda preciso tirar um dia para ir ao centro da cidade fazer algumas compras, e não seria nada mal se parasse de chover. Provavelmente irei na quinta-feira, e talvez aproveite para dar um alô a um amigo que não vejo já há tempos.
Volto ao seu rosto. Com todas as reviravoltas que andam acontecendo, nada poderia me trazer mais segurança do que esse sorriso suave distribuído no canto dos seus lábios, onde tenho a certeza de estar guardado um beijo meu. E pretendo pegá-lo em breve.
E assim a tarde vai embora, junto com o chá frio e a bituca já apagada.
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