quarta-feira, agosto 26, 2009

Potro - Carne Fresca

- Bem-vinda, pequena criatura!
Dizem os olhos que lhe conceberam.
E este, com suas pernas esqueléticas,
Seus olhos entreabertos e banhado
Em líquido gosmento amniótico,
Descobre o egocentrismo.

Mas... momentos mais tarde,
Vendo suas tripas entre dentes,
Seu sangue esvaecido pelo chão
E à volta nada além de lama fétida,
Ele pensa: Bem-vindo, o caralho!

segunda-feira, agosto 24, 2009

A Jornada Maior

De exaustas duas luas batalhar
Co'o peito em brasa, roubo o teu calor.
Se em meio-tempo a guerra repousar,
Estreito império aos braços, meu amor.
Nas águas destes olhos, brando mar,
Componho um horizonte a meu favor.
E em lanças afiadas de tal porte,
Suspiro ao conquistar a Boa Morte.

terça-feira, agosto 18, 2009

Excremento

Pois algo que lhe garanto
É que nunca há de existir
Tamanho enfraquecimento
Que as micas podres unir

De um espírito austero,
Cada vez mais impotente,
Dando espaço ao desespero
De uma mente inconsistente.

segunda-feira, agosto 17, 2009

Semblante

Ele me apareceu do nada e veio como quem nada queria.
Não como um presente divino e menos ainda como um incômodo.

Já desde um primeiro segundo desconfiei que seria difícil me livrar dele tão cedo. Eu segurava uma lata e um cigarro enquanto ele me observava com seus olhos amendoados e me mostrava sua alma em um sorriso simplório e honesto.
Hoje, portanto, como já bem sabia, sua presença tornou-se unicamente necessária. Sua voz, seu cheiro, sua risada. Cada detalhe tornou-se a essência de um todo que carrego comigo dia após dia, em pequenas prestações.

Não importa onde ou quando, ele simplesmente está lá, em cada singelo momento, em pensamento, em carne ou na simples forma de um sorriso cortês. Ele presencia as vitórias e as derrotas, as piadas e os mau-humores, assistindo atentamente a cada riso e, por outro lado, prestando auxílio exclusivo a toda e qualquer lágrima que possa eventualmente brotar. 
E ainda hoje não perde um só movimento, me levando a um ponto em que posso jurar que consegue ler um mundo de pensamentos através de uma só expressão, mesmo que absolutamente inexpressiva.
Ele pinta cada minuto com ondas de cores tão vivas, que eu nem sonhava em um dia conhecer, e interpreta cada palavra que falo melhor até do que eu mesma seria capaz.

Muito mais do que eu pude um dia querer, e ainda assim tudo o que eu sempre quis:
O meu karma roubado, um universo.
E eu pretendo guardá-lo por uma eternidade e meia.

domingo, agosto 09, 2009

Self Sabotage

You don't love anyone
You don't trust anyone
They're all monsters close to your perfection
(Aren't they?)

And then I tell you, sweetie
That you spent the last cents
And your resources are finally over
(So what now?)

After years of changes, of indecisions
Leaping from place to place, from person to person
Leaving the old, always looking for a new
(Guess what?)

You finally note that you're running from yourself
'cause the real insatisfaction is inside your head
Consuming you, burning like acid in your veins
(It hurts, doesn't it?)

And now you're on your own
There's nobody to trust you
There's nobody to love you

So, darling, I don't judge
I don't know your mind
I don't know your plans
Just tell me:
Now,
Did it work?

sexta-feira, agosto 07, 2009

Insânia

Do traquejo oco
De penúria ilógica,
Cheia de enfins
E falhas e vácuos,
Germina a entidade:

Ser ilimitado,
Alheio à razão
Ou à coerência.
Traiçoeiro,
Descrente,
Repleto de astúcia.
Sem intuito, certeza,
Anseio ou verdade.
Arrasta constante
A débil carcaça
Osteoporosa,
Farta e moída.
A quem infinitas
Hipóteses vãs
Enfim conduziram
À mera demência.