sábado, outubro 15, 2011

O poço é sempre mais fundo do que imaginamos.

Você, assim, meio sem querer, vai descendo pedra por pedra. Você sabe dos perigos, e sabe que algo está errado, mas mesmo assim não pára. Desce mais e mais, em direção ao fundo. Ao chegar lá, percebe que aquilo que parecia o chão é na verdade um monte de água escura e fria.


E aí você cai e afunda. Você afunda até submergir os braços, o pescoço e depois o rosto. No final não resta nem um fio de cabelo fora d'água.

De repende, você se dá conta de que está afundando cada vez mais, como se algo te puxasse para baixo. Você tenta lutar contra. Tenta agarrar nas pedras lisas e subir, mas aquilo continua te puxando. Você está fraco. Você precisa respirar.


Em uma dor angustiante, a água inunda seus pulmões e sua mente rodopia. Você pensa que talvez alguém sinta a sua ausência e te encontre.

Talvez alguém te salve e aí... quem sabe...


...





Seu corpo repousa suavemente no chão, imóvel. Engolido pela escuridão total. O silêncio é abafado pelo peso da água em seus ouvidos.

Não há mais nada: luz, angústia, consciência. Apenas a água que logo dissolverá sua carne podre e sumirá com os últimos resquícios de uma vida decadente.
Tudo ficará em paz agora.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Ate

Não há nessa vida agonia maior em forma de sentimento que o ciúme.
Todo ciúme é doentio. Alguns um pouco mais, outros um pouco menos, mas ainda assim todos o são.

Aquela sensação de coçar a espinha, latejar a cabeça, gelar o estômago e colar o pulmão. Algo que acelera a circulação e dilata a pupila, quase como em um caçador prestes a atacar sua caça.
Sempre tão poético, no limite da decadência humana. O ciúme descontrolado, histérico; ou o ciúme reprimido. Tanto faz.
É a intimidade particular que atravessa as barreiras da fixação; que arrebenta com todos os limites de uma mente sã. O ciúme que adoece, que perturba, que arranha, que dói até nos lugares menos vulneráveis; dói nos ossos. Ele cega com seus pensamentos pontiagudos e ensurdece com a sua sinfonia repetitiva e desarmoniosa. É capaz de atingir qualquer um e deixá-lo inteiramente a mercê de sua própria vulnerabilidade.

Impressiona como tal sentimento, criado pela capacidade de raciocinar, se torna, com o tempo, tão irracional.
Sem exceção, todo ciúme é uma doença; todo ciúme é digno de uma consequência, grave ou não, na concepção de quem o sente.