quarta-feira, novembro 11, 2009

segunda-feira, novembro 09, 2009

Nostalgia

A gota quente
de álcool e
o trago pesado
que o peito
estourado sente
trazem consigo
novamente
o pesar gelado
insuportável
e insistente
que a saudade
gosta de sentir
diariamente.

terça-feira, outubro 20, 2009

Deimos

O medo é a bomba relógio que impera sobre todos os outros sentimentos humanos. É o ápice instintivo abrigado no id que o ego nunca será capaz de impedir ou de disfarçar.
Costumam falar do amor, do ódio e da tristeza como sentimentos supremos. Tudo demasiadamente valorizado. Pois o medo, aquele do qual ninguém fala, é a causa e a destruição de toda e qualquer ação e reação natural.

Do medo ergue-se o orgulho, e sobre esse equilibram-se o amor e o ódio.
O medo de perder a honra, a guerra, o amado ou o filho.
O medo de não saber, de não estar, de não ser a parte pertencente de um todo. Medo de fracassar, de ser recusado, de ser rebaixado, de não ser aceito.
O medo da decepção, o medo da solidão, do abandono, da morte, da tristeza, da loucura. Medo de acabar na cadeia, no hospício, em casa ou no inferno.
O medo do desconhecido, do escuro, da rua, do quarto.
O medo de si ou até mesmo o medo do outro, pelo outro.
O desespero, a fobia, a síndrome. O medo do próprio medo.

Essa ilustre sensação que nos acompanha e suas engrenagens enferrujadas que, em meio a rangidos medonhos que ecoam quase como música no fundo de todos os pensamentos diários, movem um mundo de pesados maquinários, ao qual há muito tempo demos o nome de razão.

terça-feira, outubro 13, 2009

A moça do lado de lá

- Que há, pequena garota dos olhos negros? Por que estás tão triste? – Lhe perguntei. Não obtive resposta alguma. Ela me espreita do outro lado, me mede.

Seus ombros são estreitos; seus seios, medianos; sua barriga possui curvas singelas: costelas quase sobressalentes, cintura bem fina, que escorrega suavemente para um quadril largo, arredondado. Uma penugem preta recém-aparada esconde seu lado mulher, seu sexo. Suas coxas semi-carnudas se afinam à medida que desço o olhar. Suas pernas são razoáveis e encontram-se imóveis, pregadas ao chão.

Ela possui um corpo pequeno, de aparência frágil, diferente de seu olhar... não, sua realidade é crua, exausta. Seus olhos fundos e seus cabelos curtos e molhados, penteados com desleixo para trás, lhe geram uma expressão que poderia ser cruel, se não fosse tão triste, tão deprimente.

Uma lágrima brota em seu olho esquerdo, rola rapidamente por sua face, tocando de leve seus lábios cerrados, e se acaba por despencar silenciosamente em seu colo.

- Por que choras tais lágrimas de piedade, moça? - Voltei a perguntar - Por que estás tão triste?

Ainda nenhuma resposta. Sinto raiva em seu estar. Fujo o olhar do dela, e ela faz o mesmo, mas logo voltamos a nos encarar. Ela se descontrola, me xinga, se bate. Mais e mais lágrimas começam a surgir, atropelando umas às outras. Ela se desloca para trás, ao encontro da parede fria, e vai escorregando lentamente até o chão. Ajoelha-se, as mãos levadas à boca. O rosto avermelhado demonstra agora uma expressão de desespero. Respira com dificuldade, em meio a soluços, como se lhe faltasse o ar. Ela se descabela e esconde os olhos, me tapando a visão por detrás das pequenas palmas frias.

- Estou cega, diz.

Mas logo retoma o controle, enxuga a face, arruma os fios despenteados. Se põe em pé, e novamente suas feições se contraem em um olhar raivoso, e ela volta a me encarar. Nos aproximamos... cada vez mais perto. Centímetros de distância entre sua boca e a minha. Posso respirar sua alma, seu passado. Consigo compreender seus fardos.

Subitamente, ela recua. Seu rosto se contorce em ódio puro. Ela ergue o punho, decidida, e o leva em minha direção. Em um estrondo, me despeço em mil pedaços, que caem no chão, um a um.

Olho para os lados, nada de garota. Alívio. Minha mão pinga vermelho vivo pelo piso preto opaco deste cubículo. Olho para baixo e lá está a realidade, abstrata, em pedaços, a me olhar com os velhos olhos negros.

Piso em seus cacos, me visto, a ignoro. Por hora, estou salva. Mas sei bem que logo ela estará de volta a me assombrar.

- Quando vais embora? - pergunto.

Nunca.

terça-feira, outubro 06, 2009

Pavor Nocturnus

Meia-noite,
O silêncio da escuridão,
A atenção focada em cada ruído,
Os olhos assustados que percorrem
Cada silhueta, cada sombra
Perdida nos cantos do quarto.

Um barulho à porta,
O estalar da madeira do armário,
Alguns passos vindos do teto,
E a atenção redobrada
Nos reflexos do espelho.
Os olhos sonâmbulos e ágeis
Que não perdem um só detalhe.
A gota de suor na testa
E a ânsia gelada no estômago,
Velhas companheiras.

Outro ruído estranho,
Não sei ao certo
Se da sala ou da rua.
A garganta se fecha,
A respiração pesa.
Uma lágrima sofrida
Aparece sem aviso
E escorre sutilmente,
Molhando o lençol.

Uma e meia. Duas horas.
- Fecha os olhos,
menina! Deixa disso,
Que é tudo faz-de-conta
E não há o que temer.

segunda-feira, outubro 05, 2009

Saudade

Levo no bolso um relógio,
Um livro e um par de olhos;

Simples distrações rotineiras
Enquanto espero o bom dia
Que as horas levaram embora.

Momento Final

Na curva
Do asfalto
Deslizam
Os pés pesados
Que pisam
Ligados
A caminho
Do abismo.

quarta-feira, setembro 30, 2009

Life Continues

Doesn't matter the fights. Doesn't matter the pain.
Doesn't matter the women. Doesn't matter the claim.

Yesterday I would think, and regret and cry.
Yesterday I would care. I would call. I would die.

But today I wanna go out, and drink and smoke.
Today I want morphine, cigarettes and coke.

I wanna meet new mouths, in new legs I wanna fall.
And tomorrow I won't think. I won't care. I won't call.

Today I realise, I don't wanna be fool.
That's why I say: doesn't matter me.

Doesn't matter you.

segunda-feira, setembro 28, 2009

Ego ao Avesso

Morrerei co'o pulmão
E as tripas derramadas pelo chão.
Pintarei de vermelho
As paredes, o teto e o espelho.
Queimarei meus cabelos,
Os olhos, as unhas e os pêlos.
Abrirei o meu peito
A quem se atrever a tal feito.

E há de me suportar
Pelo decorrer de uma eternidade
O mesmo que desejar
Testar a tão incrível sanidade.

terça-feira, setembro 22, 2009

Psicanálise

Olha pra cá,
Vê se me diz,
O que será
Que me corrói?

Deixa um nome,
Uma identidade.
Vê se me conta
Seu paradeiro.

Olha pra cá
E diz pra mim,
O que me dá
Que tanto dói?

Será cansaço,
Vício, doença?
Loucura, quiçá?
Minha sentença?

Olha pra cá
E fala, enfim.
Que eu quero saber
O que há em mim.

terça-feira, setembro 15, 2009

Contagem Regressiva

Um salto
Dois vinhos
Três maços

E tantos amores, quantos,
Atentos aos passos no telhado
E à conversa no quintal.

Três nós
Dois jogos
Um desenho

E quantas lágrimas, tantas,
Que vazam da mente exausta
E molham o cabelo e o colchão.

"Você está bem?"
Não sei. Talvez.
É a angústia da espera.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Diga 'Xis'

Uma pausa, um flash,
Um ápice captado
Num clicar bressoniano*. 

O sorriso que não cessa,
A lágrima que não cai,
O beijo que não sela
E a paixão que irá viver
Branca e amarela,
Fixa no filme
Até desvanecer
Num breve sopro de tempo, 
E desse modo morrerá
Na pureza instantânea: 

Um sorriso, uma lágrima e um beijo
Que, como o romântico e seu desejo,
Goza ansiando o momento
Que nunca acontecerá. 

        *Foto: Henri Cartier-Bresson

quinta-feira, setembro 03, 2009

O Mundo em Preto e Branco

Hoje
O tempo cessou
Nas gotas da chuva
Cinza que desaba
Na calçada suja,
No cabelo do bêbado
Indigente.

Ela cai morna
E escorre pura
Na face escura
Desbotada
Pelo tempo.
E cada gota
Leva consigo
Pro bueiro
Fatias velhas
De uma vida
Que não sonha mais.

terça-feira, setembro 01, 2009

Tédio

Cutuco o ponteiro,
Acordo os minutos
Que se esquecem de passar.

Suspendo uma faca,
Intimido o Sol
Que se nega a apagar.

No fogo do isqueiro
Queimo pensamentos
Que se esvaem pelo ar.

Xingo a tarde opaca,
Estico o lençol,
Fecho os olhos a aguardar.

quarta-feira, agosto 26, 2009

Potro - Carne Fresca

- Bem-vinda, pequena criatura!
Dizem os olhos que lhe conceberam.
E este, com suas pernas esqueléticas,
Seus olhos entreabertos e banhado
Em líquido gosmento amniótico,
Descobre o egocentrismo.

Mas... momentos mais tarde,
Vendo suas tripas entre dentes,
Seu sangue esvaecido pelo chão
E à volta nada além de lama fétida,
Ele pensa: Bem-vindo, o caralho!

segunda-feira, agosto 24, 2009

A Jornada Maior

De exaustas duas luas batalhar
Co'o peito em brasa, roubo o teu calor.
Se em meio-tempo a guerra repousar,
Estreito império aos braços, meu amor.
Nas águas destes olhos, brando mar,
Componho um horizonte a meu favor.
E em lanças afiadas de tal porte,
Suspiro ao conquistar a Boa Morte.

terça-feira, agosto 18, 2009

Excremento

Pois algo que lhe garanto
É que nunca há de existir
Tamanho enfraquecimento
Que as micas podres unir

De um espírito austero,
Cada vez mais impotente,
Dando espaço ao desespero
De uma mente inconsistente.

segunda-feira, agosto 17, 2009

Semblante

Ele me apareceu do nada e veio como quem nada queria.
Não como um presente divino e menos ainda como um incômodo.

Já desde um primeiro segundo desconfiei que seria difícil me livrar dele tão cedo. Eu segurava uma lata e um cigarro enquanto ele me observava com seus olhos amendoados e me mostrava sua alma em um sorriso simplório e honesto.
Hoje, portanto, como já bem sabia, sua presença tornou-se unicamente necessária. Sua voz, seu cheiro, sua risada. Cada detalhe tornou-se a essência de um todo que carrego comigo dia após dia, em pequenas prestações.

Não importa onde ou quando, ele simplesmente está lá, em cada singelo momento, em pensamento, em carne ou na simples forma de um sorriso cortês. Ele presencia as vitórias e as derrotas, as piadas e os mau-humores, assistindo atentamente a cada riso e, por outro lado, prestando auxílio exclusivo a toda e qualquer lágrima que possa eventualmente brotar. 
E ainda hoje não perde um só movimento, me levando a um ponto em que posso jurar que consegue ler um mundo de pensamentos através de uma só expressão, mesmo que absolutamente inexpressiva.
Ele pinta cada minuto com ondas de cores tão vivas, que eu nem sonhava em um dia conhecer, e interpreta cada palavra que falo melhor até do que eu mesma seria capaz.

Muito mais do que eu pude um dia querer, e ainda assim tudo o que eu sempre quis:
O meu karma roubado, um universo.
E eu pretendo guardá-lo por uma eternidade e meia.

domingo, agosto 09, 2009

Self Sabotage

You don't love anyone
You don't trust anyone
They're all monsters close to your perfection
(Aren't they?)

And then I tell you, sweetie
That you spent the last cents
And your resources are finally over
(So what now?)

After years of changes, of indecisions
Leaping from place to place, from person to person
Leaving the old, always looking for a new
(Guess what?)

You finally note that you're running from yourself
'cause the real insatisfaction is inside your head
Consuming you, burning like acid in your veins
(It hurts, doesn't it?)

And now you're on your own
There's nobody to trust you
There's nobody to love you

So, darling, I don't judge
I don't know your mind
I don't know your plans
Just tell me:
Now,
Did it work?

sexta-feira, agosto 07, 2009

Insânia

Do traquejo oco
De penúria ilógica,
Cheia de enfins
E falhas e vácuos,
Germina a entidade:

Ser ilimitado,
Alheio à razão
Ou à coerência.
Traiçoeiro,
Descrente,
Repleto de astúcia.
Sem intuito, certeza,
Anseio ou verdade.
Arrasta constante
A débil carcaça
Osteoporosa,
Farta e moída.
A quem infinitas
Hipóteses vãs
Enfim conduziram
À mera demência.

domingo, julho 12, 2009

Um Brinde Universal

Tim-tim! Um brinde!
Ao pó do pó. Às cinzas das cinzas.
Aos filhos miúdos flagelados.
Ao mais espesso querer de uma existência.
À incapacidade do não-ter, do não-ser.
Inigualavelmente crua, cruel.
Da inveja mais banal,
Unicamente imersa em submissão,
Retalhada, secretamente admirada.
Possessa,
Possessiva.
Um brinde à posse.
Um brinde ao nada.
À frustração constante da inconstância,
Da volatilidade.
Um brinde a um todo, a um tudo.
E mais outro ao tédio cotidiano aflitivo.
Ao desespero, aos que estão sem estar,
Que permaneceram sem sequer tentar,
E àqueles que poderiam ser, mas não foram.
Sim, um brinde!
Às pequenas - e grandes - fatalidades.
À supremacia da ignorância, da infantilidade,
Da inexperiência e o seu descontrole.
Um brinde a mim.
Um brinde a ti.
Um gole,
Um trago,
Um pó.
E mais um para o buraco.
Tim-tim!

sexta-feira, junho 05, 2009

Ode à dor

Dor amada, deliciosa dor
Que inunda meu peito, megera.
Crua, a retalhar, dilacera
Num monocromatismo incolor.

Vilã ignóbil de espíritos.
O ápice do ápice do ser.
Desaba aos meus olhos, a gemer.
E vive à espreita dos malditos.

Dá-se, magnífica e penosa.
Me usurpa, me toma, cobiçosa.
Me faz flagelar, estremecer.

E me aparto em teu doce alento,
Me faço imergir, desatento,
Num delírio soberbo de prazer.

quinta-feira, maio 21, 2009

Soneto - Pardon! Pardon!

Perdoe, meu amor, todo o histericismo.
Sinto que não lhe concedi devido valor.
Mas, por favor, perdoe o egocentrismo
Deste ser que sepulta em amarga dor.

O mundo me fez figura descontente,
De transacto lúgubre e injurie amargura.
A quem o fado não é sequer existente,
E a mente divaga em genuína loucura.

Não repudies tua pequena descrente,
Que mi existência logo soa decadente.
Nem me importa ver marchar outro amigo,

Mas não tu, que te reportas a mim.
Pois tu, meu querido, se morres assim,
Me levas ao túmulo a definhar contigo.

terça-feira, maio 19, 2009

O ontem, o hoje e o amanhã

De volta ao inferno caótico que denomina-se como cidade. De volta a esse mar de friezas e indiferenças.


Foram-se os tempos em que eu me via como parte disso tudo, e nem o mais frio dos seres era capaz de me atingir. Até porque, acredito que, na maioria das vezes, este ser acabava por ser eu mesma. Muito provavelmente eu mereço o fardo que carrego. Talvez eu nem sequer mereça ser feliz, como que em uma forma de pagamento pela felicidade que tomei de muitos outros sem a menor piedade.

Mas hoje os tempos são outros. Ao passo em que a droga da compaixão foi brotando em meus pensamentos e eu fui me arrependendo das muitas coisas que fiz, o mundo, por seu lado, foi se tornando esse inferno cada vez mais decadente.

Hoje sou poeta, romântica exacerbada, hipocondríaca depressiva. Alcoólatra. Fumante. Apaixonada. Me tornei uma dessas pessoas que se deixam envolver. Sou impulsiva, sou instável. Hoje, bem hoje, que resolvi expor ao mundo os mais profundos de meus pensamentos, sofro à presença da indiferença alheia, e me curvo perante a frieza que há muito costumava pertencer a mim.

Não me recordo em que exato momento de minha medíocre existência me tornei essa pessoa tão fraca, tão vulnerável, deixando de ser aquela que eu sempre senti o ápice do tesão em ser.

Porém lhes digo, meus caros leitores, que neste exato momento volto oficialmente ao meu narciso, a mim. Sarcástica, cruel, impossível. Deste momento ao além, fecho minha mente e meu coração - se é que este realmente um dia existiu - a qualquer pseudo-sentimentalismo barato que eu possa vir a encontrar. Pisarei, humilharei, e tratarei com a mais áspera indiferença aqueles que ousarem invadir, arrogantes, o meu caminho.

Sim, de volta às origens. De volta ao velho ego.
Pois não se teme o inferno quando se é o próprio capeta.


O mundo não é para os fracos.